Diário de Tokala - Tranças Brancas
- Clarinha
- 8 de mar. de 2018
- 5 min de leitura
Estava espairecendo na estalagem. Gostava de ouvir os transeuntes conversarem, me ajudava a entender esse povo e a facção como um todo.
Durante o dia que passei conhecendo mais Orgrimmar e descansando na estalagem, as frases que mais ouvi foram: “Pela Horda!” (principalmente daqueles que paravam para tomar uma cerveja), “baixas da guerra”, “o que você acha dessas novas raças se aliando?” (geralmente em sussurros e quando eu passava), “o que você acha que Sylvanas está planejando para a Horda?”.
Comecei a refletir sobre essas coisas... sei que nem todos que habitam Orgrimmar foram defender Azeroth da Legião Ardente diretamente, uns porque não estavam prontos, outros porque seus afazeres os conduziam por outro caminho. Eu mesma me assustei quando comecei a ver tantos seres diferentes passando por Totem do Trovão e nos ajudando a defendê-lo.
Quer dizer... essa parte das pessoas que não foi às Ilhas Partidas e não conheceu as raças que lá habitam também devem estar estranhando, como eu mesma fiz. Hoje avistei um maior número de Taurens Altamontanha pela cidade, assim como Filhos da Noite (me pergunto secretamente se eles já se arrependeram de ter trocado o conforto e excentricidade de Suramar pela praticidade e simplicidade rudimentar de Orgrimmar).
Percebi, também, que esse povo respira a própria facção, aqui se vive para a Horda e pela Horda. Isso é um sentimento novo pra mim, mas que me deixa extremamente curiosa, quando encontrar Mavis novamente, vou pedir para que me conte sobre a história da facção ou me indique onde posso descobrir mais.
Já em relação à Chefe Guerreira, notei que as pessoas parecem um pouco hesitantes. Se escutei direito, a Horda vem passando por uma trágica sucessão de Chefes Guerreiros e Sylvanas foi designada pelo seu antecessor em seu leito de morte. Em sua carta, ela me pareceu uma mulher forte, de pulso firme e que coloca as necessidades da Horda em primeiro lugar e acho que isso é uma coisa boa, não é?
Efim... enquanto eu estava pensando sobre isso, a taurena dona da estalagem me avisou que havia chegado uma carta para mim.
A carta era de Mavis e me informava que Gal’jin havia recebido a minha carta e estava esperando na sede da família Lança de Drakul para a minha iniciação. Eu estava bebendo um chá enquanto lia e involuntariamente cuspi tudo na carta quando percebi que eu precisava atravessar a cidade inteira correndo para chegar na sede e ainda passar pela iniciação.
A estalajadeira não entendeu nada quando eu larguei tudo como estava e saí porta afora. Que nervoso! Não achava que a iniciação seria assim... no dia seguinte. Nem tive tempo para me preparar psicologicamente para isso, mas respirei fundo e disse para mim mesma: “Você consegue, garota! Mostre para Gal’jin do que os Taurens de Altamontanha são capazes!”.

Assoviei enquanto montava em meu alce e Wohali se juntou a mim. É claro que minha águia percebeu meu nervosismo e agitação e entendeu que algo importante estava para acontecer. Corri como nunca antes, tentando não errar nenhuma entrada. “Siga pela rua principal e sempre terá um guarda para te ajudar caso fique perdida.” Mavis havia me alertado.
Bom... é claro que eu tive que parar e perguntar onde estava e para onde ficava o Vale da Honra. O orc me respondeu sem muita vontade, não sei se por não estar num bom dia ou se porque eu já deveria ser a centésima pessoa que parava para pedir informações.
Chegando no Vale da Honra, a sede foi fácil de achar, é um prédio imponente e de fácil visualização. Deixei meu alce na porta e subi as escadas com Wohali atrás de mim. Depois do segundo lance me deparei com um troll de cabelos brancos (não... pera... eram tranças brancas) encarando uma mesa com diversos documentos e mapas.
Ele levantou lentamente o rosto me medindo e eu não conseguia parar de pensar nas tranças brancas... eram as tranças brancas... aquelas tranças brancas... pela Mãe Terra... QUANTAS... TRANÇAS... BRANCAS! Engoli em seco e percebi que ele havia perguntado alguma coisa... o que era mesmo? Ah sim! Meu nome.
Acho que meu nome nunca saiu tãaaaao difícil dos meus lábios.
Ele me pareceu bem sério, ou seriam as tranças brancas? Eu me esforcei tanto para olha-lo nos olhos e não acima deles. Me forcei a focar no que ele falava, eu sabia que era importante!
Gal’jin então me disse que Wohali precisaria esperar do lado de fora. Mantive minha postura ereta e confiante, mas estar sem minha águia parceira me fazia sentir... sozinha, vulnerável.
Bom... não vou escrever em detalhes como foi minha iniciação, pois não sei se isso é permitido e não gostaria de ter de queimar meu diário caso o Chieftain discordasse.
Vou apenas dizer que, com muito esforço, me mantive firme e tentei ao máximo esconder meu nervosismo e passar a imagem que eu quero que os Lobos Brancos tenham de mim: alguém em quem confiar, alguém com quem contar.
A postura séria passou, era só um teste, mas as tranças brancas... elas continuavam lá, me encarando. Gal’jin então me contou um pouco sobre a história do clã e me testou, como imaginei que faria (mentira, eu quase morri quando ele o fez). Eu passei pelo primeiro teste, mas sei que muitos outros virão.
Tenho agora a tarefa de viajar até a Encruzilhada nos Sertões Setentrionais. Quando ele falou os nomes eu apenas assenti, mas a verdade é que não faço ideia de onde fica. Irei perguntar à estalajadeira amanhã pela manhã. Ele disse também algo que me deixou um tanto preocupada. Falou que lá precisariam da minha ajuda e que eu descobriria um lado da Aliança que eu ainda não conheço.
Pelo que pude perceber, é uma região habitada por taurens e que, de alguma forma, devem ter sofrido com a outra facção. Estou ansiosa com a possibilidade de me encontrar com mais pessoas daquele povo, mas receosa sobre o que irei descobrir.
Ah! Como pude me esquecer? Mavis apareceu durante a minha iniciação para observar e, suponho eu, me encorajar, mas quando Gal’jin falou sobre a minha provação, a taurena ficou estranha, seus olhos pareceram tristes e molhados. Ela mencionou algo sobre uma aldeia... hum... Tarujo... Tujaro... Taurajo, algo assim, e pediu licença para se retirar.
Gal’jin percebeu minha preocupação e me tranquilizou, disse que ela ficaria bem, mas que aquela região lhe trazia lembranças, que talvez, futuramente, Mavis poderia querer dividir comigo.
Com o primeiro passo da minha iniciação completado, o troll me deu permissão para partir. Não sabia bem como agir, então por via das dúvidas, eu o saudei e fiz uma reverência. Não sei se foi o certo ou se é o que os Lobos Brancos têm costume de fazer, mas ele me retribuiu.
Desci as escadas e Wohali estava me esperando na porta do prédio, então resolvi lhe pregar uma peça. Assim que saí, o encarei com uma cara triste e a águia, preocupada, me questionou inclinando a cabeça para o lado. “Te enganei!” Eu gritei para ele enquanto fazia um carinho em suas penas e ele abriu as assas e guinchou. Estava tão feliz quanto eu!
Pois é, Wohali... tive que dar o primeiro passo sozinha, mas para o próximo precisarei da sua ajuda. Amanhã vamos viajar!

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