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Diário de Tokala - Portões da Morte (II)

  • Clarinha
  • 22 de mar. de 2018
  • 5 min de leitura

Acordei no dia seguinte com o orc me chacoalhando desesperado. “Você precisa acordar Tokala! Eles estão aqui!” ele gritava. Levantei espantada já procurando meu arco e lança enquanto Regthar me explicava melhor.


Aparentemente derrotar o líder dos Kolkar dos Sertões não causou o impacto esperando, em vez disso, um contingente de Kolkar havia se deslocado durante a noite para vingar o líder caído e agora estavam nas trincheiras tentando avançar para o Sertão adentro.


Pulei da cama enganchando minhas armas no equipamento enquanto assoviava para os meus animais me seguirem. Montei no meu alce e questionei o orc para qual direção deveria seguir. Ele apontou para o oeste e me perguntou: “Mas você vai sozinha? O ideal é que tivesse mais alguns com você.”.


Eu olhei pra ele e disse “mais dois seria o ideal?” e o orc acenou afirmativamente em resposta e eu continuei “Então lhe apresento Wohali e Echeyaki, juntos somos três e o suficiente para acabar com essa investida.”. O orc me olhou com reprovação, mas ele sabia que não havia mais ninguém para chamar e a ameaça precisava ser detida agora.


Segui correndo para oeste e não demorou muito avistar a bagunça de orcs contra centauros mais a frente. Desci do alce e segui correndo atirando em todas as cabeças que consegui distinguir.


Chegando mais perto vi minhas feras detonando alguns centauros. Guardei o arco e saquei a lança. Tinha chegado a hora de cortar umas cabeças! Bem... a quantidade de centauros era muito grande e por mais que eu não goste de infligir dor antes de matar, foi necessário cortar qualquer coisa que estivesse no meu alcance.


A pequena batalha já havia se transformado num banho de sangue quando alguém gritou algo sobre o líder estar chegando. Aparentemente era quem os centauros se referiam como Senhor da Guerra Krom’zar (Senhor da Guerra... affff, sério mesmo?).


Ao que parece os líderes Kolkar tem medinho de andar sozinhos e Krom’zar, assim como Herzul, estava acompanhado de outros dois.


Dois orcs pularam nos guarda-costas do “Senhor da Guerra Krom’zar” enquanto eu dizia para provoca-lo “Já estávamos achando que você estava com medinho demais para aparecer!”. Aquilo pareceu surtir o efeito desejado porque o centauro bufou alto e começou a correr na minha direção.



Desviei o primeiro golpe dele com a minha lança. Ele parecia mais forte e melhor do que Herzul. Ele se voltou rápido na minha direção e sorriu de uma forma monstruosa. Confesso que fiquei um pouco abalada com aquele rosto cheio de cicatriz sorrindo.


Atrás de mim, a batalha estava uma completa bagunça de verde e marrom, não conseguia mais distinguir ninguém e não fazia ideia de onde minhas feras estavam ou se estavam bem. Aquilo me deixou preocupada, comecei a me sentir insegura e o medo de algo ter acontecido à eles me desestabilizou.


O centauro deu início numa nova investida na minha direção e eu me preparei para o ataque, desviei e consegui fazer um pequeno corte em sua pata dianteira. Krom’zar se enfureceu e urrou pra mim enquanto se virava e começava a correr de novo.


Minha cabeça estava com mil estratégias e nenhuma parecia boa o suficiente. Demorei demais para pensar e enquanto ele me levava a crer que tentaria me atingir novamente com a ponta da lança, no último momento ele girou e em vez de me tentar me perfurar, ele bateu com a outra ponta no meu rosto, mas o impacto foi tão forte que eu fui atirada para trás.


Eu ainda estava me levantando quando ele se pôs a correr na minha direção novamente. Assim que consegui ficar de pé ele já estava quase do meu lado e só pude jogar o corpo na outra direção evitando que a lança atingisse o meu coração e lá se foi... mais um rasgo no meu tabardo e mais uma mancha de sangue no tecido branco.


“Que droga!” eu murmurei pra mim mesma. Aquela porrada na cabeça tinha me deixado meio lerda, parecia que eu não conseguia pensar direito. Eu estava agachada de costas para o centauro que começou a correr de novo.


Eu precisava lutar, não podia continuar apenas desviando. Ele tem quatro patas, não vai se cansar de correr! Então quando ele chegou bem perto, eu levantei girando meu corpo para a direita e acertando a lateral do corpo meio cavalo do centauro enquanto ele fincava a lança no chão que eu estivera momentos antes.


Preciso dizer que o urro de dor do centauro foi correspondente ao tamanho do corte que eu fiz na lateral direita do seu corpo, o problema foi que o barulho chamou atenção de outros centauros e antes que eu me desse conta, um deles começou a conjurar cargas elétricas em mim.


“Sua vagabunda! Se não fossem os orcs nós teríamos extinguido sua raça. Não importa se seu chifre é diferente, você é fraca como eles e vai pagar pelo que fez.” Krom’zar cuspia enquanto gritava na minha direção. Eu estava de joelhos, incapaz de me mexer com as descargas elétricas me paralisando.


O corte que eu havia feito era grande e muito sangue estava jorrando dele. Sei que poderia vencê-lo, mas com aquele outro centauro me paralisando, eu era um alvo fácil até para um moribundo. A única coisa que consegui fazer foi assoviar na esperança de que algum deles viesse em meu socorro.


Krom’zar ergueu sua lança com dificuldade, mas ele só precisava solta-la em cima da minha cabeça e eu estaria morta. Eu já estava rezando à Mãe Terra pedindo desculpas por ter sido prepotente e arrogante quando ouvi o guinchar de Wohali e vi suas garras perfurando os olhos do centauro conjurador.


Rolei para o lado antes que a lança me acertasse enquanto pegava minha própria arma e, sem pensar mais, apenas a projetei para cima, atravessando o peito do centauro. Ele me olhou com tanto ódio e descrença, e suas mãos se fecharam em volta do meu rosto. Ele apertou com força e eu girei e forcei a lança em resposta até que seus braços caíssem ao lado do corpo.


Respirei fundo, aliviada. Olhei para o meu peito e agora metade do tabardo era vermelho. Ao que parecia, além do novo corte, os pontos do anterior haviam estourado, lavando o tecido branco com sangue.


Quando os centauros que restavam se deram conta de que o líder havia morrido bateram em retirada como covardes que são, largando os feridos para trás. Wohali veio em minha direção e acho que nunca fiquei tão grata em ver minha águia, mas ele não parecia tão feliz quanto eu e saiu voando em direção às trincheiras. Foi quando me dei conta que não havia visto Echeyaki.


Saí correndo atrás da ave desesperadamente até que ela pousou no meio do campo de batalha. Alguns orcs estavam ao seu redor e eu abaixei para ver o que tinha acontecido. O leão, que antes era branco, estava agora como o meu tabardo, metade dele era vermelho rubro.


Não dava para ver de onde vinha o sangue, onde estavam os cortes, mas ele pareceu feliz em me ver e aquilo partiu meu coração. Passei minha mão pela sua cabeça e só consegui dizer “Vai ficar tudo bem” sem saber se eu mesma acreditava naquilo.


Alguém me trouxe um pedaço de tecido grande o suficiente para embrulhar o animal. Com ajuda de mais um orc eu consegui leva-lo até o forte.


Regthar me ajudou a cuidar de suas feridas, mas me alertou “Você precisa retornar a Encruzilhada, lá terá o necessário para salvar seu amigo.”. Com os olhos cheios de lágrimas eu acenei em concordância enquanto agradecia o orc.


Passei a noite no forte monitorando a respiração de Echeyaki e limpando suas feridas. “Amanhã de manhã partiremos, amigo. Você vai ficar bem, vai receber o tratamento necessário e não vou deixar mais nada acontecer a você!” eu disse enquanto afagava a cabeça do felino.


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