O Passado de Zuwee - Parte III
- Clarinha
- 25 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
<---AVISO: LEITURA NÃO INDICADA PARA MENORES DE 16 ANOS--->
Do lado de fora ouviu algumas vozes e percebeu que havia adormecido. Se levantou e chorou com a dor que estava sentindo. Se arrumou e caminhou para fora. Encontrou algumas outras fêmeas preparando os ritos funerários para os mortos. Aparentemente, todos os machos da aldeia haviam sido assassinados.
Zuwee não percebeu quando uma outra trolesa da vila chegou perto e encostou no seu ombro.
- Cê tá bem, Zuwee? – a trolesa perguntou preocupada.
- Claro, por que não estaria? – Zuwee respondeu sem emoção alguma na voz enquanto fitava o vazio.
- Oh querida... – disse uma outra trolesa enquanto se aproximava. – não fique assim. São apenas machos. Devem ter bebido um pouco.
Fogo tomou conta do olhos de Zuwee.
- São apenas machos que beberam um pouco? Cê que deve ter bebido um pouco pra falar uma porcaria dessas. Eles dizimaram os machos dessa vila e me... me... – Zuwee tentou falar, mas não conseguiu.
- Oh, não foi só contigo, foi com a maioria de nós. – completou a fêmea num tom natural.
- E como cê pode tá achando isso normal? Se aquele imprestável que cê chama de chefe tivesse investido nessa vila, tivesse treinado as pessoas daqui, a gente não teria passado por isso. Isso nunca teria acontecido! Aquele canalha é um imprestável e o que esses orcs fizeram NÃO É NORMAL! E cê nunca mais ouse dizer que é.
- Mas Zuwee é o que mac...
- PARE AGORA! Meu irmão era um macho normal, SEU parceiro era um macho normal, o pai dela – apontou para a primeira trolesa – era um macho normal e eles não faziam esse tipo de coisa. Então pode parar tentar justificar os erros dos outros com essa desculpa absurda.
Zuwee saiu andando até o centro da vila, ajoelhou para ajeitar o corpo do irmão, colocou a cabeça onde ela deveria ter ficado, olhou com carinho para ele enquanto tirava uma mecha do cabelo verde de seu olho. Respirou fundo enquanto levantava e, suportada pelo ódio que sentia, gritou o mais alto que pode.
- Cês tem 10 segundos para correrem daqui.
As trollesas começaram a se reunir envolta de Zuwee murmurando e sem entender o que estava acontecendo, mas Zuwee continuou.
- Não precisam fazer ritual funerário para ninguém, cês tem 10 segundos pra correr daqui porque eu vou queimar essa vila inteira.
Algumas começaram a ficar receosas, enquanto outras debocharam.
- Se aquele babaca acha que manda em alguma coisa e é tão covarde e fraco ao ponto de não desenvolver seu povo, então ele não merece governar mais nada!
As trolesas não se moveram, apenas ficaram se entreolhando sem saber o que fazer.
- Dez... – Zuwee começou a contar.
Nada.
- Nove... – e como que para incentivar as fêmeas ainda descrentes, um raio caiu numa casa afastada começando um pequeno incêndio na cabana.
E nove foi o número necessário para fazer com que o pavor tomasse conta das mulheres e elas começassem a correr para qualquer direção que as levasse para longe daquela aldeia.
Esse seria seu presente para o chefe da aldeia... um monte de cinzas para ele governar quando voltasse. Depois de todas terem fugido, Zuwee olhou para o céu e gritou, expirando toda a raiva, ódio e tristeza que estava sentido.
Shango, o Loa da tempestade, devia estar tão indignado quanto ela, porque os raios e trovões responderam instantaneamente ao seu grito, atingindo as estruturas da vila e alimentando o pequeno incêndio que começava a devorar a próxima cabana. Zuwee olhou uma última vez para o lugar que um dia havia sido seu lar e começou a caminhar para fora da vila.
Andou até seus pés não aguentarem mais e então, com ajuda da luz da lua e de uma tocha improvisada, avistou uma caverna. Examinou para checar se não era morada de algum animal, mas parecia estar vazia. Então se encostou na parede, e foi escorregando até sentar-se no chão. Abraçou novamente suas pernas e chorou.
- Chore Zuwee, chore bastante, porque essa vai ser a última vez que cê vai chorar, garota. – disse para si mesma enquanto uma chuva forte começava a cair do lado de fora. - Shango olha por ti agora.
Cerca de dois/três anos depois...
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