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Diário de Tokala - A Última Página

  • Clarinha
  • 17 de abr. de 2018
  • 3 min de leitura

Cedo no dia seguinte, fui descobrir que lá era um pequeno acampamento de druidas e que eles poderiam estar precisando de uma ajudinha.


Falei com alguns druidas e peguei algumas missões. Saí animada com as possibilidades que um novo dia podem oferecer. Não muito tempo depois, enquanto alimentava kodos raivosos, percebi que vinha vindo um outro kodo num ritmo bem lento e pisando devagar.


Parei um momento para assistir a cena. O animal andava com tanta dificuldade e quando chegou mais perto pude perceber a razão... ele estava muito velhinho, bem debilitado, mas nada disso tirava a determinação dele em continuar.


Achei que todo esse esforço descomunal fosse apenas em razão da idade, mas assim que ele passou por mim, pude visualizar um corte bem feio na sua perna traseira... era por isso que o pobre animal mancava.


Aquela cena já estava me deixando agoniada. Ele era velhinho, debilitado, por que não parava de andar e poupava sua energia? Quando dei por mim estava com os punhos cerrados de tanta aflição até que o pobre e idoso kodo desabou no chão.


Não consegui me segurar e fui correndo até o animal. Meu instinto de imediato foi cuidar do corte na perna dele. Limpei, coloquei algumas ervas maceradas e enfaixei fazendo um curativo. Era claro que o kodo tinha, no máximo, poucos dias de vida, mas eu não pude evitar tentar cuidar dele.


Fiz carinho e disse para que o animal descansasse, enquanto passava a mão na sua cabeça. Peguei um pedaço de tronco que tinha lá perto e joguei dentro toda a água do meu cantil para que ele pudesse beber. Como ainda estava do lado do acampamento, voltei para encher novamente o meu recipiente.


Assim que estou saindo do meio das folhagens que cercam o acampamento, meus olhos automaticamente procuraram pelo kodo e, para meu susto, ele não estava mais lá. Miro mais adiante na direção que sabia que ele estava indo e... bingo! O animal estava de pé e continuava caminhando.


A preocupação me dominou e saí correndo atrás do pobre animal. "Você não pode sair andando! Está machucado!" eu resmunguei pra ele, mas recebi um bufo como resposta. Os mais velhos costumam ser meio teimosos mesmo, né?


Ele continuava mancando e de vez em quando soltava uns grunhidos de dor que apertavam forte meu coração. Resolvi caminhar ao lado dele e ajuda-lo toda vez que caia. Se ele estava tão determinado a andar, mesmo naquela situação, é porque deveria ser importante.


Quando o An'she estava no horizonte, dando espaço para Mu'sha brilhar, chegamos numa construção natural. Passamos entre dois morros, que faziam as vezes de paredes e levei alguns minutos para entender o que estava acontecendo...



O kodo sabia que estava morrendo e era por isso que andou tão determinadamente para lá, porque ele sentia que a hora dele estava chegando... que a sua última página estava sendo virada.


Aquilo era um cemitério... um gigante cemitério de kodos. Fiquei parada, apenas olhando em volta enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. O local estava cercado de ossos de kodos e uns outros moribundos.


Muito embora a cena fosse de partir meu coração em mil pedaços, o que eu sentia ali era a mais absoluta paz. Olhei para o meu amigo e ele, pela primeira vez, me retribuiu o olhar. Seus olhos brilhavam com a mais profunda gratidão e eu só consegui abraça-lo e chorar.


A natureza é trágica e bela ao mesmo tempo e essa é a beleza oculta da vida, é o ciclo sem fim.


O meu amigo kodo deitou no pedaço de chão que julgou ser digno o suficiente para erguer orgulhosamente seus ossos anos depois, e eu só pude sentar do lado dele e aguardar. Não sei quanto tempo se passou até que ele abaixou a cabeça exausto e quando Mu'sha reinou absoluta no céu, seus olhos se fecharam para nunca mais abrir.



"Que a Mãe Terra guie seu espírito, meu amigo..."


Acho que nunca chorei tanto nos meus 20 anos, não só pela perda de um animal, mas por tudo aquilo que vi, senti, percebi e redescobri. Isso é a vida...

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