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O Javali Cor-de-Rosa

  • Clarinha
  • 8 de mai. de 2018
  • 5 min de leitura

Zuwee fez da caverna sua casa e treinou, tendo a natureza como mestre, se esforçando o máximo possível. A garota era uma verdadeira autodidata, mas não se comparava a ter um treinamento dado por um xamã experiente, que não só lhe ensinasse a usar o seu dom, mas lhe explicasse a razão daquilo tudo.


Em vez de tentar dominar a água, como havia feito e fracassado tantas vezes antes, a jovem trolesa se dedicou a treinar nos dias de tempestade, e a melhora foi imediata. Os raios respondiam ao seu comando com muito mais facilidade, era como se tivesse uma conexão especial com a eletricidade.


Depois que Garrosh fora derrotado, Zuwee arriscou sair mais da sua caverna e interagir um pouco com a população. Ela ainda sentia um certo bloqueio em relação à machos no geral e especialmente em relação aos orcs, mas ela sabia bem no fundo que não poderia culpa-los todos pelo que havia acontecido à ela.


Não muito longe de sua morada, a trolesa descobriu uma taverna à beira da estrada, onde passou a fazer dinheiro entregando caças de vez em quando. O dono da taverna, um troll de pele verde e cabelos rosa, as vezes a deixava comer um prato de graça quando trazia bastante carne para vender, mas Zuwee sempre pagava. Ela não gostava de favores, sentia que ficava devendo e ela não gostava de dever para ninguém.


O troll não perguntava qual era o problema da garota, sabia que era nova, estava sempre com um semblante de poucos amigos, nunca entrava acompanhada e não carregava qualquer brasão que indicasse vila ou família. Uma vez lhe perguntou o nome na tentativa de adivinhar de onde vinha, mas só ouviu Zuwee como resposta.


Depois de um desses longos dias de treinamento, Zuwee estava com preguiça demais para cozinhar e decidiu que o cozido de javali da famosa taverna seria uma boa pedida para a noite. Entrou no Javali Cor-de-Rosa e seguiu direto para sua mesa de costume, a mais escondida no canto direito, e se sentou de frente para a porta. Sempre sentava-se de frente para a porta, nunca de costas.


A nova garçonete veio correndo para atende-la.


- O que vai querer hoje, Zuwee?


- O cozido de javali, Sahani, e uma cerveja da mais forte que você tiver.


- É pra já! – disse a jovem orquisa e gritou para a cozinha enquanto se retirava – Ô chefe, desce um cozido de javali e uma cerveja beeeem forte!


A taverna era bem típica: quente, simples, mas aconchegante pra quem mora numa caverna. Além disso, ela precisava admitir, o cozinheiro mandava muito bem. Graças a ele o cheiro da comida sobrepujava o de suor. O local estava calmo e a brisa da noite entrava pela janela e balançava os cabelos verdes de Zuwee enquanto ela comia e apreciava a cerveja.


- O cozido está muito bom hoje, Sahani, algo em especial?


- Ah não, nada de especial. É daquela caça que você trouxe mais cedo, a carne está realmente muito boa. – respondeu a orquisa com um sorriso.


De barriga cheia, Zuwee recostou-se na cadeira e soltou um arroto de satisfação. Parou para observar as estrelas quando escutou algo muito desagradável do outro lado da taverna.


- Calma aí, onde é que cê vai com tanta pressa, gatinha? – dizia um troll.


- Por favor, senhores, me deixem ir, preciso atender os clientes – respondeu a jovem orquisa tentando se esquivar.


- É... fica aqui com a gente, toma uma cerveja, nem tem mais ninguém pra atender mesmo. – completou um orc enquanto puxava a mão de Sahani impedindo-a de sair.


Assim que Zuwee virou a cabeça em direção aos sons, seus olhos arderam em brasa e teve que se controlar para não vomitar o cozido de javali que acabara de comer. Todas as lembranças ruins vieram a sua mente e antes que se desse conta, já estava parada de frente para os dois machos atrevidos.


Mais rápido do que os dois acreditaram ser possível, Zuwee pegou a faca da mesa e fincou na mão do troll que estava a sua esquerda e com o seu machado na mão direita, avançou até o pescoço do orc.


- Algum problema aqui, senhores? - questionou enquanto encarava ferozmente o orc.


O orc estava claramente com medo de tentar dizer algo e ter sua pele mais pressionada ainda contra a lâmina do machado, então o troll resolveu responder.


- Na-nada de err-errado não, moça. A gente só tava...


- Só tava o quê? Importunando na menina? Ou qual a parte do “me deixem ir” cês não entenderam? São tão burros assim?


- Não senhora, a gen...


- Cala a boca, seu babaca. – disse Zuwee virando-se repentinamente para o troll e avistando uma bolsinha de moedas. – Ali Sahani, pegue a bolsinha do troll.


A jovem orquisa que estava com cara de espanto pareceu voltar a si e nem ousou questionar a trolesa.


- Agora... quanto eles gastaram aqui, Sahani? – perguntou Zuwee em tom sarcástico ainda com as mãos segurando firmemente a faca e no machado.


- Cerca de cinco moedas de prata em bebidas.


- Então pegue seis. Cinco pelas bebidas e uma de gorjeta pelo incomodo causado. – Zuwee disse com um lindo sorriso no rosto desafiando os dois machos a contraria-la.


Sahani pegou as moedas e colocou a bolsinha de volta no alforje do troll. E então Zuwee retirou o machado da garganta do orc e puxou com tudo a faca que segurava a mão do troll enquanto ele soltava um leve gritinho de dor.


- Muito bem senhores, foi ótimo fazer negócios com vocês. Espero que tenham aprendido a não mexer com uma fêmea que, claramente, não quer sua companhia. – disse enquanto olhava com desgosto para os dois e no segundo seguinte mudou para um sorriso inocente – E voltem sempre! Seu dinheiro é muito bem vindo aqui.


Os dois machos praticamente correram para fora da taverna enquanto, de trás do balcão, o troll de cabelo rosa soltou uma gargalhada!


- Tá vendo, Sahani. É assim que cê trata esses embuste. Tirando a parte que cê usa minha faca pra cortar carne de troll. – disse o dono da estalagem ainda rindo.


- Você acha que eles vão voltar, Zuwee? – perguntou a orquisa.


- Com certeza. Essa é a única taverna em quilômetros de estrada, mas não se preocupa não, garota, eles aprenderam a lição. Se precisar de um reforço, é só segurar a faca ali enquanto atende eles – e deu uma piscada de olho para Sahani.


Zuwee olhou para a orquisa e automaticamente lembrou de si mesma anos antes. Ela era jovem e teria uma vida inteira pela frente. De alguma forma Zuwee se sentia responsável por não deixar que sua vida fosse destruída por algum macho idiota.


- Bom... acho que já tá na minha hora também. Até mais ô do cabelo rosa. E Sahani – disse olhando fundo nos olhos da orquisa – nunca deixe um macho falar daquele jeito. Cê é forte garota, não leva desaforo, não.


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