Luz e Sombra - Parte III
- Clarinha
- 1 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
Capítulo III - Bela como a Aurora
Belanore partiu de madrugada, evitando esperar que eu acordasse para não tornar aquilo mais difícil do que já era. Devastada, machucada, cansada, fraca e extremamente envergonhada era como eu me sentia, mas o que minha irmã havia me dito era verdade e eu não podia mais me dar ao luxo de ficar sem fazer nada.
No dia seguinte acordei com a cama vazia ao meu lado, mas uma carta carinhosa junto do colar que ela havia ganhado de nossa mãe no seu quinquagésimo aniversário. Ambas sabíamos que algo ruim aconteceria, caso contrário, a mensagem de Bela não pareceria tanto uma despedida final e ela jamais teria se desfeito do colar se tivesse a certeza de que voltaria.
Apesar de tudo isso, me recusei a acreditar no pior, e trabalhei arduamente ajudando na retomada de Quel’thalas. Eu queria e precisava muito ajudar meu povo, mas a verdade é que no fundo, eu queria que Bela ficasse orgulhosa de mim quando voltasse.
Apesar da situação difícil, algo de bom brotou no meio do caos. Sem a constante presença da minha irmã comecei a prestar atenção nos outros elfos ao meu redor com mais atenção e criei afeição por um elfo que curiosamente parecia estar sempre próximo para me ajudar. Kyrionthir, seu nome. Começamos a nos aproximar e acabamos assumindo um relacionamento.
Ele se tornou meu suporte, meu amigo e, com certeza, um companheiro. Assim como eu, havia perdido familiares, tanto para a guerra, quanto para a fome e, quando não estávamos auxiliando na reconstrução da cidade, estávamos curando nossos corações um com a ajuda do outro.
Não muito tempo depois, recebemos um mensageiro, seu rosto estava lívido e seus olhos vidrados. Havíamos sido traídos por um humano: o líder da resistência de Lordaeron, Garithos. Pelo que descobri mais tarde, ele nunca aceitou bem as outras raças e há tempos planejava uma forma de acabar com a aliança com o meu povo.
Reconheci o mensageiro, sabia que ele conhecia minha irmã, e assim que seu depoimento foi tomado pelos assistentes de Lor’themar eu me aproximei dele. Segurei em seu braço e mirei seus olhos quase sem brilho ansiando por um comentário sobre minha irmã.
Ele desviou os olhos azuis dos meus e eu soube naquele momento que tinha acontecido o pior... “Sua irmã... ela... ela morreu. Sinto muito, Helenore.” Ele disse quase num sussurro enquanto meu coração se estilhaçava e então eu percebi que queria saber tudo que havia acontecido.
Enquanto Kyrionthir carinhosamente mantinha uma mão em meu ombro, Elithiel me contou que, ao que tudo indicava, Garithos sabia que um contingente do Flagelo avançava do oeste querendo invadir a recém tomada Dalaran. Ele simplesmente marchou para o sul e levou com ele todos os seus soldados e cavalaria deixando o pequeno exército de Kael sozinho com ordens de impedir o avanço do Flagelo.
Belanore estava para trás auxiliando na cura dos elfos, mas que não parecia ser suficiente. Então ela decidiu correr para as linhas de frente. Elithiel não soube dizer exatamente o que aconteceu, mas quando a viu, uma daquelas aberrações a estava segurando pelo longo cabelo dourado e, enquanto ela gritava, outro deles dilacerou sua garganta. O exercito de Kael inteiro teria sofrido destino semelhante, não fosse a aliança com os nagas.
As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto ele narrava a história, mas minha expressão permaneceu séria. Agradeci pelo relato e enquanto estava levantando para deixa-lo descansar, ele me segurou pela mão e disse: “Ela estava lá. Elsinore estava lá! Ela tentou ajudar Bela, mas já era tarde demais quando alcançou seu corpo.” Eu fiquei pasma com aquela informação, mas a única coisa que conseguia pensar era que a irmã que não conheci estava viva e a irmã que amei estava morta.
Voltamos para o quarto no qual estávamos morando, numa estalagem em Lua Prata. Sentei na frente do espelho, encarei meu reflexo, cortei o longo cabelo dourado que sempre fora ostentado com orgulho pelos Brilhaurora e jurei que viveria meus dias para vingar Bela. Foi naquele dia que abri lugar para o ódio no meu coração... aqueles humanos malditos me pagariam por isso.
Kyrionthir observava do batente da porta enquanto eu cortava meu cabelo e assim que terminei, ele se aproximou sem falar uma palavra, me abraçou por trás e beijou o topo da minha cabeça enquanto o brilho da aurora invadia nosso quarto.
Continua...

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