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Luz e Sombra - Parte IV

  • Clarinha
  • 4 de mai. de 2018
  • 4 min de leitura

Capítulo IV - Luz e Sombra


Aquilo foi o divisor de águas na minha vida. Estávamos sozinhos, nossos aliados haviam nos apunhalado pelas costas e continuávamos sedentos por energia.


Enquanto trabalhávamos arduamente, mas sem muito progresso na reconstrução das terras élficas, Rommath retornou de Terralém com estranhos cristais verdes que poderiam nos alimentar. Os métodos não eram bons, mas era a nossa única esperança.


Algo em relação àqueles cristais não me parecia certo, mas eu estava faminta e a alternativa me parecia melhor do que sacrificar animais e nos alimentar de sua energia vital. Não me parecia justo que eles pagassem pelo nosso vício.


Pelo menos o uso desses métodos não foi de todo ruim. Estávamos voltando a viver, em vez de apenas sobreviver e os trabalhos se tornaram produtivos. Era inegável o tamanho do avanço na reconstrução de Quel’thalas. As coisas estavam bem parecidas a como eram antes, e estaria melhor, não fosse aquela maldita cicatriz na terra, que nada conseguia curar.


Soube, depois de um tempo, que Lua Prata receberia uma carga valiosa, um ser que fora raptado por Kael em Terralém e que prometia ser o fim da nossa busca por fontes de energia. Quando ele chegou, fui até a cidade dar uma espiada, e meus olhos não acreditaram no que viram. Era um ser sagrado, feito de energia pura: M'uru.


Aquela tranquilidade e paz que ele emanava logo foram substituídos por sede e ganancia. Parecia que havia nos deixado loucos. Eu queria drena-lo até a sua última gota, mas ele resistiu a todas as nossas investidas. Tínhamos em nosso poder um ser sagrado feito de pura energia, e em vez de tentar aprender com dele, a maioria de nós queria se banquetear da sua vitalidade, e aquilo quase nos condenou.


A sede e a obsessão em encontrar uma forma de tomar aquela energia fez com que muitos de nós, e eu inclusive, passássemos a consumir os cristais verdes com mais frequência, na falsa esperança de que aquilo fosse nos dar a força necessária para subjugar o naaru.


Kyrionthir já havia me alertado para tomar cuidado com os cristais, ele também sentia algo de errado naquela energia, mas eu simplesmente não conseguia parar. Ele, ao contrário de mim, consumia bem pouco, apenas o mínimo possível para sobreviver e se eu tivesse escutado, se eu tivesse controlado minha ganancia, eu poderia ter sido agraciada pelo conhecimento do naaru, como ele foi.


Hoje eu sinto vergonha, mas naquele tempo, até sessões de tortura contra a criatura eu participei. Estava tão controlada pelo luto da morte de minha irmã, que acreditei cegamente que receber a energia do naaru me daria o poder necessário para realizar a minha vingança, mas quanto mais cristais eu consumia, mais corrompida eu me tornava e, consequentemente, mais distante o naaru ficava.


Enquanto eu desejava tomar a força aquele poder, uns poucos elfos foram agraciados com ele, meu parceiro foi um deles. Kyrionthir chegou certo dia em nosso quarto na estalagem e, já não aguentando me ver tão viciada e destruída pela energia dos cristais, confessou o que havia acontecido à ele.


Em um acesso de inveja e raiva não pude acreditar que depois de tanto esforço de minha parte, era ele que recebia a recompensa do naaru. Brigamos e Kyrionthir disse que estava indo embora, seguiria os Cavaleiros Sangrentos, do qual agora fazia parte, até terralém e, pela segunda vez, eu fui deixada sozinha.


A frustração e impotência, somadas ao uso inconsequente dos cristais verdes foram devastadores para mim. Fui perdendo a conexão comigo mesma e acabei por dar certo espaço para o vazio que era refletido pelos machucados que causei em M'uru.


Não me lembro muito do que se passou depois, pois era como se não fosse eu mesma habitando meu corpo ou como se uma nuvem espessa impedisse minha mente de pensar. Fiquei sabendo apenas que em algum momento Kael ficou louco e me lembro de que estava acompanhando a Investida do Sol Partido no Platô da Nascente do Sol, enquanto tentávamos retomar nossa terra sagrada.


Eu resolvi ficar para trás, ajudando e cuidando dos soldados feridos, quando uma luz impossivelmente dourada brilhou na minha mente. Meus pensamentos se clarearam e uma energia familiar me preencheu novamente. Naquele momento eu não soube o que havia acontecido, mas tinha a certeza que, de alguma forma, a Nascente do Sol havia sido restaurada.


Enquanto os soldados deixavam o Platô vitoriosos, eu observava atentamente buscando qualquer um que estivesse machucado ou precisasse de auxilio, e não percebi que havia alguém parado atrás de mim. Braços fortes circularam minha cintura e uma voz familiar soou contra o meu curto cabelo dourado: “Senti tanto a sua falta...”. Me virei para me deparar com Kyrionthir e não consegui esconder a felicidade em meu rosto.


Lágrimas escorreram e tinha tanto que eu queria dizer... pedir desculpas pelo que havia feito, dizer que o amava e senti sua falta e pedir para que nunca mais nos separássemos, mas nenhuma palavra foi necessária, apenas o abraço que demos foi suficiente para traduzir toda aquela avalanche de sentimentos.


Hoje eu sou uma sacerdotisa que foi tocada pelo sagrado e pelo vazio e, com constante treino e esforço, estou aprendendo a controla-los para que ambos habitem em mim em harmonia. Tenho dedicado minha vida e minhas habilidades para defender meu povo e a Nascente do Sol, mas mesmo tendo passado pela purificação quando a nascente foi restaurada, ainda sinto o mesmo ódio pelos humanos que sentia anos atrás...


Selama ashal'anore!


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