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Acerto de Contas

  • Clarinha
  • 31 de mai. de 2018
  • 2 min de leitura

Não é como se eu fosse supersticiosa, mas algo não estava certo naquele dia. O dia, em si, parecia totalmente errado para mim, ainda que nada de estranho ou diferente tivesse acontecido.

Vila Sombria já é sinistra por si só... se não fosse, por qual razão colocariam esse nome, afinal? Deve ser por isso que gosto do lugar. A única cidade fora de Guilnéas que me fazia lembrar de casa.

Estava anoitecendo e fazia tempo que eu não tinha um pouco de diversão. Os negócios poderiam esperar uma noite, não é mesmo? Eu sabia que tipo de diversão queria e onde encontra-la.

Caminhei pela rua escura até a última taverna, na periferia da cidade. Sentei no bar e pedi uma cerveja. Àquela altura eu já tinha observado todo o local e sabia quantas pessoas tinham, onde estavam e o que faziam. Nada escapava aos meus olhos, mas eu insistia em dizer para mim mesma que estava de folga.

Já era a minha terceira caneca quando o jovem de cabelos castanho-claros, que não estava lá quando cheguei e com quem eu havia trocado olhares, finalmente se aproximou. Ele não parecia de lá, devia ser novo na cidade.

Ele sentou ao meu lado e perguntou se estava acompanhada. “Achei que nunca fosse perguntar” eu respondi com um sorriso obsceno.

Ele sorriu de volta. Paguei a conta e ele me conduziu para fora da taverna e em direção à uma cabana lá perto. A noite pareceu ficar mais fria e a lua perdeu o brilho quando virei de costas para que ele abrisse meu vestido, mas em vez de sentir suas mãos descendo pela minha coluna, eu senti o metal perfurando minha carne.

Eu senti o seu peito contra os meus ombros e sua boca contra a minha orelha enquanto dizia: “O Xerife mandou lembranças e disse que não gosta de ser enganado.”.

Xerife, na verdade, não era xerife nenhum... era apenas um fazendeiro rico pelo qual eu havia fingido interesse para furtar umas coisinhas que jurava que ele jamais notaria, mas pelo visto ele notou, e não gostou.

Percebi, então, que eu não conseguia me mexer... as lâminas deveriam estar embebidas em veneno. Ele puxou as adagas e só então me dei conta de que eram duas.

Enquanto estava caída, eu só conseguia pensar que havia sido vencida no meu próprio tipo de jogo e que aquela falha me custaria a vida. Ainda que eu não valesse muito e tivesse mais inimigos do que podia contar, eu gostava de viver.

O sangue foi escorrendo dos meus ferimentos e levando com ele minha consciência, mas não antes de reparar que havia um corvo negro na janela... eu ainda nem havia morrido e ele já estava lá esperando...



 
 
 

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